O desempenho do técnico Monty Williams abre o nosso segundo debate
* Por Lucas Ottoni
Salve, amigos! Daqui a pouquinho, à meia-noite (de segunda para terça-feira, horário de Brasília), o nosso New Orleans Hornets (9-28) estará em quadra para o duelo contra o Portland Trail Blazers (18-19), no Rose Garden, Oregon. Porém, neste post aqui apresentaremos o segundo debate promovido pelo Brazilian Hornet. Para esta nova rodada de perguntas, eu convidei três amigos. São eles: Jardel Barros e Rodrigo Goulart, membros do blog New Orleans Hornets Brasil, e Léon Oliveira, forista da comunidade do Hornets no Orkut e grande fã do Chris Paul. Seis questões foram levantadas e devidamente debatidas. Eu aproveitei e também entrei neste debate. Peguem outra cervejinha e divirtam-se!
1 – Como você avalia o trabalho do técnico Monty Williams no comando do Hornets, durante esse 1 ano e meio?
Rodrigo Goulart: Para mim, está sendo muito bom. Apesar das invenções que ele faz em alguns jogos, eu creio que estamos no caminho certo. Só acho que o Monty tem que largar um pouco essa mentalidade exageradamente defensiva e pensar um pouco mais no ataque. O nosso time precisa melhorar muito a parte ofensiva, a gente percebe isso claramente nos jogos.
Léon Oliveira: Eu acho que ele vem fazendo um bom trabalho e tem se virado bem com as peças que possui à disposição. Eu só tenho uma ressalva em relação ao Monty Williams. É que ele olha muito para a defesa e pouco para o ataque. O ideal é buscar um equilíbrio, e nós ainda não conseguimos isso.
Jardel Barros: Temos que lembrar de como o Monty Williams chegou ao Hornets. Ele não tinha nenhuma experiência como treinador principal, assumiu uma equipe que estava sendo mal conduzida pelo seu antecessor (Jeff Bower) e ainda precisou lidar com um insatisfeito Chris Paul. Só que, desde a sua chegada, Monty conseguiu instituir a filosofia de jogo baseada em uma defesa forte e no coletivismo ofensivo. Precisamos reconhecer que ele foi muito bem sucedido, pois, desde então, a nossa defesa passou a ser considerada uma das melhores da NBA e se tornou o nosso principal diferencial competitivo. Se levarmos em consideração a média de pontos cedidos ao adversário, o trabalho defensivo do Monty é ainda mais visível. Na temporada passada, cedemos apenas 94 pontos em média para os nossos adversários, e isso significa que, nesse aspecto, fomos a melhor defesa da Conferência Oeste e a quinta melhor de toda a NBA! Nessa temporada, diminuímos essa média para 93.4 pontos. Quando ele assumiu o time, a média era de 102.7 pontos cedidos. Por isso, não há como contestar um treinador que, na minha opinião, possui uma mentalidade correta de basquete e conseguiu implantá-la a curto prazo.
Lucas Ottoni: O Monty vem realizando um excelente trabalho. Logo em sua primeira temporada como técnico, ele alcançou os playoffs com o Hornets, bateu o recorde de vitórias consecutivas da franquia (foram 10 seguidas, creio eu) e implantou uma mentalidade defensiva que vem dando certo. Além disso, os jogadores o respeitam e gostam dele. É claro que nem tudo é perfeito, e ele também comete os seus erros. Às vezes, eu não concordo com algumas das suas escalações e mudanças no time ao longo das partidas. Sem contar o fato de que a equipe do Hornets não tem apresentado um bom trabalho ofensivo. No entanto, o Monty é jovem (apenas 40 anos) e tem tudo para se tornar um dos grandes treinadores da NBA. É muito bom tê-lo conosco no comando dessa reconstrução do elenco.
2 – Que jogo do Hornets você destaca como o melhor nessa temporada, até o momento?
Rodrigo Goulart: Gostei muito do jogo recente que fizemos contra o Dallas Mavericks e também daquele contra o Boston Celtics, no início da temporada. A vitória de 97 a 92 diante do Dallas foi ainda melhor, por ser exatamente o Dallas (haha). Contra o Celtics, nós mostramos um jogo que fez a gente chegar a pensar: “Quem precisa de Chris Paul e David West? Jogamos bem demais”. Pena que isso não foi à frente...
Léon Oliveira: Para mim, foi Hornets vs Magic, lá no fim de janeiro. Nós simplesmente anulamos os “pedreiros” de Orlando. Vencemos por 93 a 67, foi um massacre! No time deles, só o Dwight Howard mesmo é que jogou bem. O cara é imparável.
Jardel Barros: Eu destaco a nossa vitória diante do Boston Celtics, pela segunda rodada da temporada regular. O resultado de 97 a 78 mostrou que tudo deu certo para nós e que tudo deu errado para o Celtics. O nosso time inteiro foi muito bem naquele jogo, e já sem o Eric Gordon. Aquela vitória representou uma esperança de que a temporada poderia ser boa, apesar das saídas de Chris Paul e David West. Só que essa esperança – por motivos extra-quadra – não se concretizou no decorrer do campeonato. Infelizmente, é claro.
Lucas Ottoni: Na minha modesta opinião, não há outra que não a nossa vitória sobre o New York Knicks, em pleno Madison Square Garden, no último dia 17 de fevereiro. O Hornets foi quem acabou com a invencibilidade da tal “Linsanity”, ao derrotar o Knicks por 89 a 85. O ginásio estava lotado, os caras vinham de sete vitórias consecutivas e todo mundo achava que o Hornets seria a próxima vítima do Jeremy Lin. Nesse jogo, os zangões surpreenderam muita gente. Foi a nossa vitória mais emblemática na temporada, até o momento.
3 – E que jogo do Hornets você destaca como o pior nessa temporada, até o momento?
Rodrigo Goulart: Eu me lembro que tivemos uma derrota em casa para o Phoenix Suns, por 120 a 103, no início do mês passado. E também teve aquela paulada de mais de 20 pontos (90 a 67) que sofremos diante do Chicago Bulls. Parece que nós nem entramos em quadra naquele jogo contra o Chicago, foi horrível. E contra o Suns, o nosso time teve um quarto período tenebroso. Então, eu destaco esses dois jogos.
Léon Oliveira: O nosso pior jogo foi aquele contra o Chicago Bulls, em que perdemos por 90 a 67. Nós jogamos em casa e fomos muito mal naquela noite. Nada deu certo, e o time não se encontrou em quadra, as bolas simplesmente não caíam. Tomamos um verdadeiro baile de Boozer e cia. e ainda vimos o Derrick Rose descansar no banco de reservas durante boa parte do jogo. Aquilo foi terrível.
Jardel Barros: Acredito que os jogos do mês de janeiro e da primeira metade de fevereiro foram aqueles que marcaram o período mais difícil para o time no campeonato. Tivemos muitos problemas, as lesões em jogadores importantes, o afastamento do Chris Kaman, etc. Nesse período, eu destaco a derrota de 94 a 72 para o Atlanta Hawks, em 29 de janeiro. O nosso desempenho foi muito ruim naquele jogo. Aquilo resumiu bem a bagunça em que a franquia estava mergulhada. Depois, o time foi ganhando uma nova forma e melhorando, com Vasquez, Belinelli, Ariza, Ayon e Kaman atuando como titulares.
Lucas Ottoni: Nós tivemos um jogo horrível contra o Chicago Bulls, em New Orleans, no dia 08 de fevereiro. Teve um outro muito ruim diante do Toronto Raptors, na semana passada. E os nossos dois últimos, contra Indiana Pacers e Portland Trail Blazers (esse jogo acabou agora há pouco), também não foram nem um pouco legais. Mas eu vou destacar a derrota para o Bulls mesmo. Os caras vieram na nossa casa e nos sacudiram: 90 a 67. Foi um negócio muito feio aquilo.
4 – O pivô Chris Kaman vem jogando muito bem e conseguindo duplos-duplos em quase todas as partidas. Diante desse panorama, você acha que ele deve ser trocado?
Rodrigo Goulart: Eu acho que sou o mais contra essa troca. Tínhamos é que trocar o senhor Emeka Okafor, simples assim. E o motivo, todos nós já sabemos. Emeka está há quase três anos no Hornets e mostrou muito pouco, de lá para cá. É um bom defensor, mas, embora tenha melhorado no ataque ultimamente, não tem a mesma qualidade do Kaman. O alemão é mais jogador que o Okafor. Por isso, eu o manteria no nosso time.
Léon Oliveira: Eu não acho que o Kaman deveria ser trocado. Ele, saudável e motivado, é All-Star. Mas como o Monty Williams prefere defesa ao ataque, o Kaman deve sair e o Okafor ficar. Acho que, em termos de pivô, nós sairemos perdendo demais com isso.
Jardel Barros: Precisamos analisar a situação do Kaman em dois aspectos distintos: o técnico e o financeiro. Pelo ponto de vista técnico, Kaman está obtendo bons resultados ofensivos de modo a cobrir com qualidade a lacuna aberta com a saída do David West. No entanto, defensivamente ele é um jogador que precisa evoluir, pois ainda permite muitos pontos fáceis ao adversário e acaba comprometendo o trabalho defensivo implantado pelo Monty Williams. Por isso, apesar de sua limitação ofensiva, o Emeka Okafor cumpre uma função tática fundamental dentro do esquema do nosso treinador. A pergunta central aí é a seguinte: devemos optar pelo talento ofensivo do Kaman e abrir mão da filosofia defensiva que está dando certo? Bem, o ideal seria manter Kaman e Okafor, mas, financeiramente, isso é inviável. Ambos ganharão cerca de U$ 25 milhões esse ano, ou seja, quase a metade de toda a folha de pagamento da equipe. Pagar esse valor a dois jogadores é algo surreal. Aí, vem uma outra pergunta: o que é mais fácil? Trocar um Okafor sem talento ofensivo e com um contrato mais longo, ou um Kaman, que é mais talentoso e tem um contrato expirante? Portanto, o mais provável é que o alemão seja trocado. Eu acho inevitável que isso aconteça.
Lucas Ottoni: Olha, é importante saber o que a franquia pretende com essa possível troca envolvendo o Kaman. O objetivo é cortar gastos e conseguir escolha(s) no draft? É obter jovens jogadores, mais baratos e promissores? Ou o Hornets pretende receber em troca um outro grande jogador? Nós ainda não sabemos, então é difícil dizer se a saída do Kaman será boa ou ruim. Então, vamos trabalhar com o que temos em mãos, isto é, o desempenho do alemão. O fato é que o Kaman vem jogando muitíssimo bem, e eu quero sempre os melhores jogadores no meu time. Mas é fato também que o Hornets não conduziu bem o caso do alemão, ao afastá-lo e depois reintegrá-lo ao elenco. Faltou habilidade para lidar com o jogador, creio eu. Diante disso, eu vejo que a chance de ele pensar na possibilidade de renovar o seu vínculo com a franquia é nula. Portanto, a única saída é a negociação até o dia 15 de março. Caso contrário, perderemos um excelente jogador no fim da temporada (ele é expirante) e não receberemos nada em troca. Isso seria lamentável, pois, apesar do alto salário (cerca de U$ 14 milhões / ano), o alemão é o melhor pivô que já passou pelo Hornets, desde a saída de Tyson Chandler.
5 – Recentemente, o pivô Andrew Bynum (Los Angeles Lakers) declarou em uma entrevista que não tem a menor intenção de jogar em New Orleans, caso se torne agente livre. Na sua opinião, foi correta a atitude desse jogador?
Rodrigo Goulart: Para mim, é um jogador que, se jogasse em outro time, não teria o nome que tem hoje. Não consigo gostar tanto do Bynum. Acho que, do mesmo jeito que ele não tem a intenção de jogar em New Orleans, o Hornets não iria querer ele também. Aliás, um recadinho para o Bynum… Chris Paul mandou um abraço, ok?
Léon Oliveira: Enquanto não tivermos um dono, eu acho que não é nenhum absurdo o Bynum pensar assim. Tudo em New Orleans é muito estranho, a franquia é muito bagunçada, e um grande jogador não gosta de atuar em um time sem dono e com ambições modestas. Mas, se Deus quiser, teremos um dono em pouco tempo, e aí as glórias virão.
Jardel Barros: Eu acredito que o jogador profissional é um trabalhador e possui o direito de expressar as suas opiniões laborais. Apesar de deselegante e – por se tratar de um jogador do Los Angeles (grande mercado) Lakers – arrogante, o atleta precisa defender os interesses de sua carreira. Por mais que torçamos pelo Hornets, precisamos reconhecer que somos uma franquia intermediária. Então, vamos nos colocar na posição do Bynum: sair de uma franquia bem estruturada, rica, localizada em um lugar com grande visibilidade da mídia e competitiva esportivamente, para uma outra pobre, desestruturada, sem visibilidade e pouco competitiva, seria uma regressão em sua carreira. E o que o Bynum fez foi defender os seus interesses, apesar de, por vezes, usar declarações impopulares.
Lucas Ottoni: Eu creio que o Bynum, provavelmente, respondeu ao questionamento de algum repórter sobre New Orleans. Eu não acho que ele iria falar o que falou de forma premeditada, tipo: “eu vou aproveitar que tem um microfone aqui e vou dizer a todo mundo que eu acho o Hornets horrível e que eu nunca jogarei lá”. Não foi por aí. Ele apenas respondeu o que perguntaram a ele. Contudo, eu acho que é pouco inteligente um jogador profissional falar coisas desse tipo, ainda mais em se tratando de um jogador da NBA. Todo mundo sabe que o mundo da NBA é totalmente imprevisível. Hoje, você está jogando com a camiseta de uma cidade, e, no dia seguinte, pode estar dentro de um avião se mudando para outra. Portanto, não é muito conveniente o cara “fechar portas” sobre algo em que ele simplesmente não tem o controle.
6 – O Hornets deve ter um novo dono muito em breve. E, ao que tudo indica, permanecerá em New Orleans. Você acredita que, acontecendo isso, a franquia conseguirá atrair grandes jogadores e formar um time para ser campeão?
Rodrigo Goulart: Eu espero que consiga atrair. Quando tínhamos um dono, montamos um time que poderia ter sido campeão (2007-08). O Carl Landry falou que renova o seu contrato, se tivermos um dono e colocarmos as coisas no lugar. O David West saiu depois de dizer que a franquia era uma zona. O contrato dele é de duas temporadas com o Pacers, e ele até poderia voltar. Quem sabe? É assim que as coisas começam, com um dono disposto a investir e com picks altas no draft. Fazendo um bom draft, renovando com o Eric Gordon, trocando Kaman ou Okafor, eu acho que estaremos no caminho certo.
Léon Oliveira: Eu, como torcedor, espero que os All-Stars olhem com mais “carinho” para o Hornets e tenham algum interesse de jogar em New Orleans. Mas sei que a nossa realidade é outra, e acho que o nosso All-Star virá do draft. Essa é a nossa saída, no momento. Depois, no futuro, a gente pensa em voos mais altos. Antes de sonharmos com título, ainda temos muita coisa para arrumar. Começando por um dono.
Jardel Barros: Absolutamente não. A permanência do Hornets em New Orleans ratificará o nosso papel de franquia intermediária por muitos anos, a não ser que aconteça o mesmo que aconteceu com o San Antonio Spurs: uma geração de jogadores leais, altruístas, uma organização bem alinhada, uma filosofia de jogo bem definida, uma liderança forte e um bom trabalho de draft e desenvolvimento de talentos. Atualmente, jogadores altruístas são algo em extinção. Vivemos tempos em que os grandes jogadores se unem para “fundar clubinhos” com amigos talentosos. E a questão da Louisiana é muito delicada, é um mercado estagnado, principalmente após a tragédia do Furacão Katrina. Como a NBA é um negócio, isso se aplica diretamente à franquia da cidade. Portanto, uma cidade que não cresce e é considerada apenas intermediária no panorama nacional obterá um time apenas intermediário. Uma cidade como essa tem espaço para apenas uma equipe grande. E essa equipe é o New Orleans Saints (da NFL).
Lucas Ottoni: A obtenção de um novo dono é absolutamente vital para o Hornets. Esse é o primeiro ponto, pois tiraria a franquia das mãos da NBA e nos daria autonomia novamente, além de evitar futuras críticas e “choradeiras” de sujeitos como o Mark Cuban. O segundo ponto é o quanto esse novo dono estaria disposto a investir na formação de um time vencedor, que possa atrair o público local e a mídia também. E o terceiro ponto – e não menos importante – é a organização, o planejamento e a estrutura da franquia, pois não adianta você gastar dinheiro de forma mal planejada, correto? Nesse sentido, eu me espelho no modelo do San Antonio Spurs. É uma franquia vencedora e está dentro de um mercado que pode ser considerado intermediário. Então, qual é o segredo deles? Estrutura, planejamento, desenvolvimento, organização e um punhado de sorte também. Eles conseguiram uma estrela como o Tim Duncan e fizeram todos os movimentos corretos para formar um time vencedor em torno do cara. Sempre encontram os jogadores ideais nos drafts (mesmo na xepa), sempre desenvolvem jogadores para o futuro e estão sempre colhendo bons frutos. Cada movimento do Spurs tem um propósito, parece que eles estão um passo à frente de muitas outras franquias. E eu acho que o Hornets deveria tentar seguir esse modelo. Aí, a formação de um time campeão será mera consequência, algo que vem a reboque.
Pronto, finalizamos o segundo debate no Brazilian Hornet. Eu aproveito para deixar os meus agradecimentos aos bravos Jardel, Rodrigo e Léon. Vocês abrilhantaram este nosso post! E espero que os leitores tenham gostado. Quem quiser discordar de alguma coisa que foi escrita, ou mesmo expor as suas próprias opiniões, é só escrever aí embaixo, nos comentários. Seria uma bela maneira de prolongarmos um pouquinho estes assuntos abordados. Até o próximo debate!
FERROADAS
* HORNETS @ KINGS: Os zangões voltarão à quadra, à meia-noite de quarta para quinta-feira, 08/03 (horário de Brasília). O adversário é a equipe de Sacramento, e o duelo acontecerá no Power Balance Pavilion, na Califórnia. O Brazilian Hornet deve acompanhar, via Twitter. Siga o BH e fique por dentro de tudo o que acontecerá ao longo da partida. Ah, e eu não esqueci do joguinho de ontem, contra o Blazers. Falarei sobre ele no nosso próximo post, que irá ao ar após o duelo com os Reis. Se liga, Monty…